Site Meter Três e eu: Escolhas

18 de dezembro de 2010

Escolhas

Ontem fiquei um tempão conversando com uma amiga que amo. Conversando é modo de falar, porque quando eu desato a falar, pobre amiga (pausa para ela imaginar a minha cara como a daquela tiazinha do busão dizendo que ela é uma guerreira)... Uma pessoa muito crítica e sincera, que não fica de mimimi e nhém-nhém-nhém por medo de discordar e "ficar mal" com alguém e que, graças a isso, é uma das poucas pessoas cuja opinião realmente me importa. Fato é que, depois de uma longa conversa não muito filosófica, ela comentou algo que me deixou pensando bastante e as ideias foram concatenando, até que eu cheguei no assunto que achei que merecia um post. Senta que lá vem a história.

Todo mundo sabe, é frase de efeito e até slogan de comercial. Mas a vida é realmente feita de escolhas. E as minhas foram, quase sempre, mais passionais do que racionais - porque eu sou assim. Mas também sempre foram feitas com muita convicção. Claro que de algumas-poucas eu me arrependo, mas não faço disso um grande problema e nem vivo de reclamar delas. É assim que a gente cresce. Aos 14 decidi fazer magistério em vez do colegial (me recuso a falar "ensino médio"), mesmo sabendo que perderia um ano a miais (o curso era de 4 anos) e estaria pouco preparada para o vestibular. Mas eu não me arrependi, adorava crianças, adorava ensinar, fiz amizades verdadeiras que duram até hoje, 14 anos e alguns quilômetros de distância depois. Não seguir a profissão não foi uma escolha, mas um caminho que minha vida foi tomando. Formada, depois de um ano de cursinho e 4 vestibulares, passei no único em que havia colocado a segunda opção. Tive que escolher entre fazer um curso com o qual eu não sonhava (mas até queria) na USP ou esperar mais um ano e TENTAR passar em outra faculdade, no curso que eu sonhava, Jornalismo. Escolhi a primeira opção e mergulhei de cabeça. Foi assim que me formei em Letras "senza rimpianti" (ou sem arrependimentos). Já bem no final da faculdade cheguei a pensar em trocar de curso por Biblioteconomia, a área em que trabalho até hoje e onde estaria ganhando um pouco mais se tivesse o superior, mas, apaixonada por Italiano e no fim do curso, nem levei o pensamento adiante. Escolhas podem custar futuros. Jornalista, eu estaria desempregada e infeliz. Bibliotecária eu estaria ganhando mais e até feliz. Nem por isso me arrependo da escolha. E outras foram surgindo. Escolhi trabalhar fora e dar um pouco mais de conforto material pra minha família. Escolhi a estabilidade financeira de um emprego público a um salário (talvez) maior lecionando. Escolhi ter um filho logo no início do casamento simplesmente porque este seria o maior prazer da minha vida. Escolhi ter o segundo filho porque esse seria o único prazer capaz de completar o anterior. Escolhi parar um mestrado na USP só porque ele ocupava um tempo que deveria ser do meu filho (até então, único). Escolhi encerrar amizades pouco (ou nada) sinceras porque me fazial mal. Escolhi morar numa cidade da qual não gosto em vez de voltar para o aconchego do colo da mamãe, pois aqui estava o homem que amo e escolhi pra viver - alguém cujas qualidades não se encontram em qualquer "Zé Mané" por aí. Minha mãe continuaria sendo minha mãe, me amando e sendo amada por mim, em qualquer lugar do planeta que eu estivesse. Além de este ser o caminho natural da vida, dela aprovar o marido com louvor e do orgulho que eu sei que ela sente pelas minhas escolhas e conquistas, feitas com muito trabalho e amor. Estar longe é uma escolha que custa caro (e não só financeiramente), mas feita com plena consciência dos prós e contras - telefone e internet estão aí pra amenizar os contras, fora que amor de mãe ou de filha não diminuem com o tempo ou a distância. Não que eu precise falar com ela o tempo todo pra saber disso, até porque custa caro e nossos dias são sempre cheios de coisas pra fazer. Pensando bem, me dá até um certo orgulho que ela não precise querer saber o tempo todo se eu estou bem emocional ou financeiramente, porque ela já sabe.

O que eu quero dizer é que não dá pra passar a vida toda fazendo escolhas das quais nos arrependeremos e ficaremos reclamando depois. Ninguém é responsável pelas suas escolhas, além de você. Não posso reclamar da minha casa suja ou bagunçada de vez em quando porque escolhi não ter empregada e também não "me matar" no tempo que me resta para descanso e lazer. Não posso reclamar que ganho menos do que gostaria porque não tive coragem ou vontade de mudar meu futuro profissional. Não posso reclamar de não ter uma pós-graduação porque não tive interesse de batalhar por ela. Não posso reclamar de não trabalhar com as coisas que eu mais gostaria porque julguei que outro emprego seria melhor. Não posso reclamar do trabalho que meus filhos dão porque eu os desejei e ninguém disse que seria fácil. Enfim, fazer escolhas nem sempre é fácil. Aí eu entendo a revolta da amiga lá do começo (que faz uma faculdade cheia de trabalhos, cuida da casa, dos 3 filhos pequenos e precisa pegar ônibus lotado com eles todo santo dia) quando as pessoas sentem "pena" dela - enquanto, na verdade, suas escolhas a fazem muito feliz. Isso aumenta minha admiração por ela: em vez de autopiedade pelo leão que mata a cada dia, ela diz que não faz mais do que muitas outras mulheres fazem e fizeram pela família. E essa atitude é proporcional à convicção com que fazemos nossas escolhas. Para alguns, é mais fácil reclamar. Eu prefiro arcar com as consequencias das escolhas erradas, continuar batalhando pelas certas e agradecer a Deus por todas, já que sempre me fazem aprender.

(post escrito em 2 dias, esperando que a amiga não se chateie por ter sido citada...)

2 comentários:

Keylla Amelotti disse...

Ah, Lets, imagine só se vou me chatear por ter sido citada, ainda de maneira não nobre! Hahaha.

Mas é isso aí. Você disse tudo que eu tenho vontade de dizer pra "dona do ônibus", mas não tenho tempo, vontade ou disposição pra dizer. Mesmo porque, poucas opiniões valem a pena. A sua é uma delas, e não preciso te explicar nem te convencer de nada, porque você já sabe tudo que eu quero dizer, antes mesmo de eu falar.

Andreia Cruz disse...

Lindo texto Let!!!
Parabéns a vc e seus 3 homens... Parabéns a Keylla por ser tão maravilhosa e tão bem resolvida...
Parabéns pra mim que além dos 3 homens tenho cachorra grande e peluda, um coelho e um aquário... ui...
Bjs amiga!!!