Site Meter Três e eu: Revisão de prioridades

16 de janeiro de 2011

Revisão de prioridades

(Previously on Three and me... ops! Acho que tôvendo seriados demais!...)
No post passado eu disse que dois motivos me fizeram chegar à conclusão que devo aproveitar melhor meu tempo com os meninos nessas férias. Este post é sobre um deles - o principal.

Eu não acho que nossas férias sejam mal aproveitadas. Pelo contrário. Em geral, conseguimos descansar bastante, colocar a faxina em dia, as crianças ficam algum tempo com as avós e algumas vezes conseguimos até viajar/passear. Mas muitas vezes eu percebo que as crianças querem atenção e eu estou preocupada com a limpeza, a comida e até com o computador ou a TV. E aí, no final das férias, tenho a sensação de que aproveitei bastante. Mas agora estou me perguntando: e eles? Será que aproveitaram? 

Eu já estava revendo meus "planos" quando esse pensamento aumentou, há cerca de uma semana, graças a um acontecimento bobo. Foi um dia normal e gostoso, as crianças já estavam dormindo, eu já havia deitado, vi TV, dei boa noite ao marido e me virei para rezar. Neste momento, senti duas pontadas no peito. Como eu nunca tive um enfarte, nunca conheci alguém que tenha sobrevivido a um e nunca estudei o assunto a fundo, pensei: "Ih, f*deu! Chegou minha hora! Adeus, mundo!". Como dá pra perceber, devem ter sido gases ou qualquer outra coisa, mas não era um enfarte - pelo menos não um fulminante. Acontece que os instantes seguintes foram suficientes para milhões de besteiras passarem pela minha cabeça. Não só besteiras. Eu sei que todo mundo vai morrer e a ideia não me apavora. Eu só não queria que isso acontecesse antes de eu ter aquela sensação de "missão cumprida" e minha vida em ordem. Por enquanto, sinto que ainda falta muita coisa - e a principal delas é ver meus filhos crescidos e "bem encaminhados na vida". Naquele momento, eu só conseguia pensar nos meninos e em como seria crescerem sem a mãe por perto. Por experiência própria, sei o que significa. Perdi meu pai às vésperas de completar 19, já era grande e ainda sinto a falta que ele faz em muitos momentos, como no dia em que passei no vestibular, no meu casamento ou em cada dia que ele poderia estar com os netos. Mesmo com minha mãe tendo se saído tão bem em todas essas situações, é óbvio que ele faz muita falta! Eu era adolescente, achava mais fácil tentar me esconder dos problemas (como se fosse possível) do que ficar ao lado dele, mesmo sabendo que aqueles momentos acabariam logo e nunca voltariam. Mas tem uma coisa que me alivia um pouco esse sentimento: naquela que foi a última noite que ele passou em casa, eu fiquei alguns minutos com ele vendo o jornal, perguntei se precisava de alguma coisa e disse que o amava (coisa que uma adolescente de 18 anos não diz o tempo todo). E essas foram minhas últimas palavras pro meu pai: EU TE AMO. Por pior que seja, ainda acho que é o melhor jeito de se despedir de alguém tão importante na sua vida. E ali, chorando de angústia, eu pensava como seria se eu morresse e minhas últimas palavras pros meninos tivessem sido "vai deitar!"??? E se eu morresse sem fazer o "ovo de dinossauro" que havia prometido pro Thierry ou sem montar a pista que havia prometido pro Fabrício??? Saí da cama e fui pro quarto deles um pouquinho. Entre outras coisas, fiquei pensando em como eu seria triste se morresse tão magoada e estando brigada com minha única irmã, que eu adoro, sem ter dito pra minha mãe o quanto a amo e quanto sou grata por tudo o que ela fez por mim, especialmente enquanto eu fazia faculdade, sem agradecer a cada uma das minhas amigas pelos deliciosos momentos que passamos juntas (mesmo que, com algumas, eles tenham sido apenas via computador), sem dizer ao meu marido pela última vez que eu o amo demais e sem ter feito tudo que eu podia para dar aos meus filhos momentos especiais e de alegria. Algumas coisas eu não posso controlar, mas quero fazer tudo que for possível pelas outras. No dia seguinte, além dessa certeza, eu acordei bem mais leve, sem raiva, sem mágoa. E daí que o chão precisa ser varrido e não está brilhando? E daí que o sofá está tão cheio de bagunça que quase não tem onde sentar? E daí que o almoço não é tão nutritivo ou que é igual o de ontem? E daí que minha unha tá um horror? E daí que tá passando pela 847ª vez aquele episódio que eu gosto (ou mesmo um que eu ainda não vi)? E daí que eu vou ter que tomar um Tandrilax no final do dia? Não significa que eles farão o que quiserem ou que não levarão uma bronca ou ficarão de castigo. Disciplina não tira férias. E nem que eu não vou fazer as coisas que eu precisar. Ainda há muito que eu quero e vou fazer (como lavar as cortinas, limpar o sofá e organizar alguns armários), mas decidi que, ainda assim, darei aos meus filhos mais momentos com qualidade, pelo menos enquanto eu estiver de férias - durante o ano é mais difícil e eu não me culpo. Isso também significa que eles podem ficar um tempo na vó, se quiserem. Daí eles chegam, eu continuo escrevendo o post e já sinto que estou falhando. Hora de parar, dar banho, esquentar o que restou do jantar de outro dia, deixar tomar quanto sorvete quiserem e ficar com eles um pouquinho. Até porque acho que eu já disse tudo o que eu queria dizer antes de morrer.

Um comentário:

Andreia Cruz disse...

Ai amiga, vc me faz chorar e me faz rir num mesmo post...
Pior q já senti exatamente isso qdo tive aquela maldita bacteremia e fui parar na Santa casa de MISERICÓDIA no meio da noite, com o Rafa com apenas 3 dias de vida...
Cheguei a me despedir dos meus filhos e marido aos prantos, achando q dali era o caixão... mas graças a Deus tô vivinha da silva...
E podendo ler vc...
Amo ler vc amiga e compartilho destes teus sentimentos, q são únicos e especiais!!!
Bjs e PARABÉNS!!! Vc realmente conseguiu dizer TUDO!!!